sábado, 28 de março de 2015

O Vencedor...


Eis que ele está em casa, de volta para nós. Eu como filha posso dizer que é muito bom ver o pai vivo em casa. Ainda com escoriações e mancando, de muletas e reclamando de dores, mas dormindo tranquilo em sua cama, no conforto de seu lar. Foram ao todo catorze dias de agonias e forçado controle emocional, em alguns momentos a revolta por ver alguém que estava ótimo agora deitado...mas o que fica mesmo é o sentimento que supera as picuinhas, os defeitos, os problemas. 

Quando chegou, um grupo à sua espera, os amigos, os companheiros da entidade assistencial, da irmandade que frequenta, que ajuda a coordenar. Nesses dias de internamento, foram muitas visitas, ligações, orações, gente de perto e de muito longe, estou feliz apesar de tudo, estou vendo que o bem que fazemos é nosso advogado por toda parte. 

Nos seus setenta e oito anos de vida, grande parte foram e são dedicados a obras assistenciais, de cuidado aos irmãos que precisam. Diz uma música evangélica que existe um "campeão, vencedor"...sim, ele é isso mesmo um vencedor, um campeão, mas sua vitória não se deve a estar vivo neste momento, mas a estar vivo desde que nasceu na miséria no Seridó, vindo a Natal para fugir dela, se estabelecendo em Macaíba com um esposa de imensa fibra e amor. 

Ele poderia ter nascido morto, como alguns de seus irmãos, poderia ter morrido de fome na seca como filho de sertanejos miseráveis, como alguns de seus irmãos e vizinhos, poderia ter morrido bêbado, ou ter alguma sequela dos vícios do passado, poderia, como viu muitos dos parentes e amigos, estar ainda sofrendo com doenças ou pela pobreza, mas resistiu a tudo, viu os parentes e melhores amigos irem embora muito cedo e agora mais essa, por tudo isso, só posso dizer, eu não tenho derrotas para contar, apenas vitórias, pois sou filha de um campeão, um vencedor.

sexta-feira, 6 de março de 2015

A mulher e o tempo...



É importante lembrar essa data, o dia 8 de Março, não como apenas um dia para dar e receber flores, mas para informar aos que não sabem o porquê da existência desse dia tão especial.
Desde o início do movimento de mulheres, da sua ida ao mercado de trabalho e de sua intensa busca por conquistas, a mulher já era vista por alguns ou muitos como ameaça, mas nos Estados Unidos no dia 8 de Março de 1857, após uma greve gigantesca das trabalhadoras da indústria têxtil, em um ato totalmente desumano e na insana tentativa de calar a voz de um grupo que se fortalecia, mais de 130 mulheres foram trancadas na galpão da fábrica e queimadas vivas.


Como se vê, esse dia tão especial não pode nos fazer esquecer que por causa de uma tragédia hoje recebemos flores e somos homenageadas.
A questão mais importante é a seguinte: depois de tantas situações difíceis e até penosas, depois de tantas conquistas e vitórias, estamos no patamar que queremos? Somos respeitadas completamente em nossa liberdade e nossas escolhas são amplamente respeitadas por nossa sociedade? A mulher deixou de ser produto comercial de diversos mercados? A mulher deixou de sofrer violência doméstica e consequentemente confrontar um homem por causa de suas ideias não é considerado ainda perigoso e ruim?

O cotidiano nos mostra que o caminho ainda é longo e requer muita serenidade, pois ainda se vê mulheres líderes de grandes empresas serem ridicularizadas por sua aparência, mulheres da política serem avacalhadas da pior maneira por defenderem seus ideais e pasmem, 

mulheres utilizando a mídia para defender quem agride mulheres...como se vê, as próprias mulheres precisam e muito ter consciência de seu valor e de sua importância social, pois se não tiver vai reproduzir a forma de vida que as oprime e isso é triste e cruel.


Ao ver uma mulher ter que se calar porque reclamou de um homem que passou na frente na fila do banco e outro homem saiu em sua defesa já aos gritos, pois ela "não deveria desrespeitar aquele cidadão"...é que se vê a frágil independência feminina e a mais frágil ainda estrutura social que não superou a grotesca e infame, a mais primitiva representação do machismo, a agressão.

A mim coube a imediata pergunta ao ver o silêncio da mulher: devemos combater a falta de respeito com mais desrespeito ou como fez a mulher, com inteligência? Pois em seguida ao silêncio a mulher olhou profundamente nos olhos do homem e disse com voz de veludo "fale baixo senhor, estou vendo e ouvindo tudo, o senhor não precisa se descontrolar para se fazer ouvir, tenha mais segurança em si mesmo, pois alguém deve considerá-lo importante"...esse homem ficou absolutamente desnorteado e ridicularizado por sua atitude bestial, típica daqueles que precisam se afirmar...


Pois bem, o tempo passou mas muita coisa continuou igual, mas nós nunca deveremos ficar paradas no mesmo lugar, andar para frente é preciso, é imprescindível...