segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O que esperar para o Ano Novo?



É incrível como 2014 foi intenso, turbulento, uma verdadeira aventura. Começamos como no ano anterior, parecendo que nada iria mudar, mas o que se passou foi um furacão de mudanças, de aventuras, de loucuras, sim, loucuras. 

Desde 2013, com as revoltas de junho, notou-se uma mudança de postura da população, indo até as ruas, protestando, cobrando mudanças urgentes e necessárias, mas como somos bem pessimistas, esperava-se que em 2014 o povo se acomodasse perante os jogos da Copa do Mundo.

O que se viu foi na verdade uma mistura de torcida e protesto: "não vai ter copa" foi o que se ouviu maciçamente, mas teve e foi excelente. Claro, muitos escândalos, obras inacabadas, superfaturamentos e tantos outros problemas deram o tom, mas seria ilusão acreditar que faríamos uma copa nos moldes da organização e pontualidade da Alemanha...e por um motivo simples, não somos alemães, nem organizados como eles. 

E por falar em Alemanha, que desgraça foi perder por 7x1, mas passa, o grande problema mesmo é que por trás dessa derrota ficou evidente a falta de planejamento e transparência na gestão do futebol, bem, se as outras coisas mais urgentes estão indo mal, não acho ruim que o futebol também esteja, temos que parar de priorizar o secundário e eleger em primeiro plano o básico...não tenho nada contra futebol, mas temos coisas mais urgentes para resolver e planejar. Prefiro ser lanterna em títulos de copa que ser lanterna em educação...na verdade poderia tudo crescer junto...com planejamento dá para fazer...

E não poderia deixar de falar da guerra eleitoral...é, o brasileiro se descobriu um animal político, com toda a sua força e apesar de muitos excessos, ficou evidente o saldo positivo de tudo isso: temos um povo mais consciente, mais vigilante, mais crítico.

O contrário também ocorreu, pois se viu crescer uma onda esdrúxula de conservadorismo em seu pior grau, um transe coletivo de bestialidade, pedidos de intervenção militar, agressões de todos os níveis e ódio, muito ódio. Infelizmente se viu crescer uma onda de analfabetismo político...paradoxal...
Enfim, o que esperar para 2015? Não sabemos, pois ficamos imprevisíveis, absolutamente instáveis...e isso é muito bom...Feliz Ano Novo!

domingo, 21 de dezembro de 2014

O bem e o mal mora dentro de nós...






Por uma questão de humanidade, talvez o espírito do Natal esteja fazendo isso comigo, resolvi escrever esta semana sobre relações humanas e seus incríveis desdobramentos. Recentemente ouvi uma conversa de uma pessoa conhecida e ela falava da falsidade das amigas e amigos e da maldade que está vencendo...muito bem, a eterna disputa do bem e do mal...

Pois muito bem, vocês poderão ficar chocados, mas essa história de bem e mal é uma questão de ponto de vista, isso mesmo, ponto de vista. O ser humano, em sua imensa complexidade, apresenta em diversos momentos de sua vida características perversas, falsas, mentirosas, hipócritas, mesquinhas, arrogantes, etc. Curiosamente, o mesmo ser humano que é capaz de todos esses monstruosos pecados, também é capaz de ajudar o próximo, de ser solidário, de fazer caridade, de ser humilde, de perdoar e também pedir perdão...diz o ditado "Que ninguém é tão mau que um dia não possa fazer o bem ou tão bom que um dia não possa fazer o mal"...e é a mais pura verdade. O ser humano tem essa dicotomia dentro dele: o bem e o mal, o yin e o yang, o positivo e o negativo.

Não vejo o bem como exclusividade dos "que procuram Deus nas igrejas", nem o mal "nos que não procuram Deus nas igrejas"...é possível estar numa igreja e cometer atrocidades e é possível ser um santo fora dela, mas isso não é o ponto chave.
O importante é perceber que nós, os seres humanos, temos os nossos imensos defeitos e as nossas imensas virtudes e ninguém é exclusivamente bom ou mal, somos uma mistura das duas coisas e o que vai prevalecer em nossa vida são as nossas escolhas e as suas consequências...boas ou ruins e ninguém poderá fugir...

Quando o defeito do outro, ou o mal de alguém nos incomoda, mesmo que seja contra nós diretamente, a psicologia já explica, não é o mal tentando vencer o bem, na verdade todos nós temos problemas de ordem interna, quer sejam inseguranças, medos, invejas, culpas, dores...e o efeito negativo da ação do outro em nós na verdade é aquele sentimento negativo que sempre esteve guardado e não trabalhado que precisou apenas de um gatilho para aflorar e certamente causa incômodo.

Esse incômodo não é ruim, na verdade é uma oportunidade de trabalhar em nós emoções negativas que estão atrasando nossa vida, uma boa experiência para reflexão, para se perguntar: por que tal atitude de tal pessoa me incomoda tanto? Por que eu fico tão irritado ou sofro com isso? Aí é a oportunidade de trabalhar o problema interno e descobrir as razões...e se isso acontecer, poderemos ver no futuro, após a superação dessa fase, quando passarmos para outra, mais avançada, que aquilo já não incomoda mais e começamos a rir perguntando: por que eu dei tanto valor a isso? Aí é o sinal da cura...porque sentimentos de maledicência, raiva, inveja, dor, culpa, medo, todos iremos ter e provocar, pois ninguém é santo e o outro não é o mal e eu não sou o bom...tudo é uma questão de assumir a própria humanidade e querer melhorar...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014


A culpa da agressão é da vítima que permitiu...




Há poucos dias, venho acompanhando o noticiário e um fato me chamou muito a atenção: a forma como o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), se dirigiu à deputada Maria do Rosário (PT-RS). Como é conhecido de muitos, o deputado não é conhecido por algum projeto ou lei, mas pelos discursos homofóbicos, machistas, agressivos e de alto cunho autoritário. Até aí tudo bem, ele tem o direito de falar as sandices que quiser, mas não deve jamais se resguardar do privilégio de ter imunidade parlamentar para ofender, macular e destratar quem quer que seja.

Maria do Rosário, no seu discurso que gerou a tamanha confusão, não falava dele ou sobre ele, falava sobre Direitos Humanos e sobre o relatório da Comissão da Verdade, pois estava naquele momento no seu dever como deputada, mas movido por uma discussão anterior, ele, Bolsonaro, resolveu utilizar o infame texto: "não te estupro porque não merece"...o resto é consequência.

Afinal, que ser humano, por pior que seja, merece ser estuprado? E mais, de que merecimento ele se refere? Será por ela não ser uma modelo capa de revista? E ser linda torna qualquer pessoa, digna ou indigna de ser estuprada? Que direito esse cidadão tem de proferir tais palavras? Alguém com insatisfação com o governo e os atuais escândalos, como já vi, está a defender tal atrocidade, falando que "roubar pode, falar a verdade não"...e aí vem a pergunta: que verdade? Desde quando um crime de corrupção é justificativa para o crime de estupro ou apologia do mesmo? E desde quando os absurdos que se tem notícia na política são justificativas para tal atitude? 

Então essa é a lógica: pode matar, roubar, estuprar, violar direitos civis em nome do combate à corrupção...e aí me questiono mais: corrupção de quem? Se alguém disser Petrobrás, aí digo com força que um dos partidos mais beneficiados, segundo a imprensa é, adivinhem: O PP de Bolsonaro...que é da base aliada, pasmem. 

Não será Bolsonaro mais esperto que todos os ladrões juntos? Em desviar a atenção de seu partido com palavras estapafúrdias? E agora se vê a turba para defender o deputado desqualificando de todas as formas a deputada, chamam de corrupta, mentirosa, etc. Pergunto de novo: na falta de bons argumentos ou qualquer argumento que seja para defender o deputado, vale desqualificar a vítima?

Isso me fez lembrar daquela pesquisa que mostrou que 64% dos brasileiros dizem que as mulheres merecem ser estupradas e pior, quem respondeu isso foi um grupo numeroso de mulheres...aliás, tem um grupo gigantesco de pessoas, os "corajosos" da internet, que jamais falariam tais absurdos em público, no cara a cara...os motivos são óbvios...mas que se sentem representados por tal homem...então reitero o que digo da seguinte forma: em um país, cuja sociedade rejeita a pacificação e os direitos básicos, a culpa das agressões é da vítima, não do agressor...

domingo, 7 de dezembro de 2014

Contradições brasileiras...



Recentemente, no Globo Repórter passou uma reportagem mostrando as belezas e a qualidade de vida da Suécia. Posso dizer que não conheço esse país de perto, mas sempre admirei a forma como as pessoas são tratadas por lá, com certeza com mais respeito que no Brasil.

Não vi a matéria, mas no outro dia li vários comentários de quem viu e ficou encantado...uma pessoa falou da licença maternidade e paternidade que juntas chegam a dar mais de um ano, outros falaram do transporte público, outros da educação, da qualidade de vida para os idosos, etc.
Me deparei com uma unanimidade incômoda: todos, sempre comparando a Suécia com o Brasil. Isso realmente me incomoda bastante e vou dizer porquê.

A linda Suécia não foi explorada por nenhum outro europeu como o Brasil, não levou para lá uma imensa população escrava e a subjugou por séculos, tampouco fez de suas riquezas vantagens para a coroa, aventureiros e piratas...também não admitiu, como a nossa população admite desde sempre que se viva em mundos tão desiguais e para completar, sempre se investiu em educação de qualidade.

Observo e protesto: a população apoia medidas que visem a redução das desigualdades? Por acaso como são chamados aqueles que precisam de auxílios governamentais? Fala-se das ruas organizadas, das ciclovias e das calçadas bem estruturadas, mas na realidade se algum prefeito ousar mexer em algum ponto da rua para fazer ciclovias a própria população é contra...e essas licenças? Se alguma mulher no Brasil resolver ficar grávida e seu marido resolver tirar a licença, pergunto será que alguém não vai sair gritando: vagabundos! Isso sem mencionar que outros brasileiros quando sabem que existem leis assim na Europa dão apoio, mas quando sabem que no Brasil alguém está querendo implementar ainda tem coragem de dizer: "mas os suecos não são vagabundos como os brasileiros"...

Então caros brasileiros irmãos, diante de tantas contradições, será que devemos nos comparar com a Suécia ou nos espelhar nela? Será mesmo que queremos um país bom para os brasileiros como a Suécia é boa para os suecos? São tantas as contradições...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Somos mesmo cidadãos?


Recentemente tenho caminhado mais pelas ruas, andado mais a pé, tomado um sol na cara...enfim, resolvi por conta própria descer um pouco do carro e aproveitar o passeio público, o transporte público, a simplicidade para não ficar tão sedentária.

Já observava como as coisas são, mas confesso, mesmo nos bairros nobres da capital potiguar, que algo que me deixou triste. As ruas não foram feitas para as pessoas, foram feitas para o bem estar dos carros. Infelizmente.

Não tenho nada contra carros, afinal, o transporte público é precário, mas exatamente por isso é que surge essa crítica.
Desde que nossa história existe, a divisão também existe e as pessoas são absolutamente excluídas. A cidadania da Constituição não é posta em prática, nunca foi, pelo menos não na sua totalidade. A escravidão foi abolida, mas será que foi totalmente? 

A Carta Magna fala de educação e saúde para todos, como direito de todos, mas sinceramente, mesmo existindo escolas e hospitais, só quem paga a mais pode ter acesso a um tratamento decente. A pergunta que não quer calar: se já pagamos impostos, pois nada vem de graça, por que precisamos pagar a mais para termos cidadania? 

A nossa sociedade reforça a exclusão, pois não raciocina no sentido de cobrar por serviços públicos de qualidade, aceitando passivamente ter que pagar duas vezes por um serviço já pago. Fico pensando sempre: por que nosso conceito e cidadania passa pela palavra pagamento? E por que os serviços para funcionarem tem que ser mantidos pelos impostos e depois ser pagos? Não sou contra a iniciativa privada ou serviços de natureza privada, mas não dá mais para ver obras públicas e olhar com desdém porque "é do governo"...afinal quem é o governo? Quem o mantém? 


Nossas praças, calçadas, transporte, passeios, estão degradados e depredados...nem as calçadas de Petrópolis escapam das pedras saindo fora do quadro...imagino se um idoso estiver andando e topar...pois bem, diante de uma cidadania tão frágil e precária, cabe o questionamento; somos mesmo cidadãos

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Destino para a educação?




É inegável que a educação brasileira está, apesar de muitos esforços, ainda muito aquém de um país tão grande e que ocupa uma posição tão importante no mundo. Somos a sétima economia do mundo, isso é fantástico, mas o nosso nível educacional é bem baixo e isso é um enorme problema que pode ser resolvido.

Por natureza o povo brasileiro é muito criativo, mas com recursos parcos e uma deficiência de aprendizado a nossa característica importante, que deveria ser utilizada para o nosso bem, apenas será utilizada para aqueles que precisam "se virar" para o bem ou para o mal.

Ouço depoimentos de professores relatando a dificuldade de exercer sua profissão, da falta de interesse de muitos alunos, da violência, drogas, das precárias condições de infraestrutura, porém não ouço, infelizmente como começa esse desinteresse.
É visível que a escola pública padece de gritantes diferenças em relação à escola particular, que desde o início os alunos de escola pública já se deparam com um sistema de total exclusão. 

Já ouvi, estarrecida, da boca de diversas pessoas, a frase: só vai dar certo se for para uma escola particular...bem, mas e a escola particular está tão melhor assim? 
A questão é a seguinte: por que a nossa sociedade não luta para fazer da escola pública um centro de excelência? Por que só pode dar certo se for aluno da escola particular? Será porque os professores da rede privada ganham mais? Não sei, será que eles são mais exigidos? Também não sei, mas será que os alunos da escola privada já nascem melhores do que os da escola pública ou os alunos da escola privada são melhor estimulados tanto por seus familiares, como por seus professores, como pela comunidade em que vive...e em uma realidade de abandono social, fica difícil o aluno querer estudar...querer mudar seu pensamento em relação à vida...

Portanto, em uma cenário tão complexo, de uma sociedade que ainda pensa a educação como privilégio para poucos e não como direito de todos, qual será o destino para ela, para a educação?

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Por que os espanto?





Recentemente, ao assistir os noticiários da TV e ler minha página da rede social, percebi um certo alvoroço. O motivo da grande agonia era um número crescente de mulheres, todas jovens e belas, caminhando completamente nuas pelas ruas de Porto Alegre, mas não só lá, aconteceu também com uma jovem aluna da UFRN. 

A princípio também fiquei espantada, mas depois de uma segunda leitura das situações, principalmente da jovem da UFRN, comecei a refletir a respeito. O que move, em um país e um mundo ainda dominados pelo machismo, mulheres terem o ato corajoso de simplesmente saírem por aí andando totalmente despidas?

Sejamos honestos, a mídia aplaude de pé, principalmente no Brasil, mulheres tirando a roupa...isso dá um lucro medonho, mas tirar a roupa e não ganhar dinheiro? Por quê? A nossa sociedade é muito interessante, pois a mulher é transformada diariamente, dentre tantos aspectos, em objeto de consumo, seu belo cabelo vende produtos que mudam a cor, alisam, cacheiam, restauram...um belo corpo vende roupas de diversos modelos, belos rostos vendem maquiagens, enfim, a beleza feminina é objeto de todo e qualquer comércio, inclusive o sexual, mas andar sem roupa sem aparentemente nenhum interesse mercantil não pode...é escândalo..dá para entender isso? 

E outra pergunta que não quer calar...por que, mesmo com tanta exposição, o corpo humano despido gera tanta polêmica? E por que alguns defensores da moral e dos bons costumes são os mais escandalizados? Cheguei a ler postagens, referentes à aluna da UFRN de pessoas absolutamente indignadas lembrando que em tempos de outrora isso não acontecia e que o respeito acabou, a moral, etc. 

Eu não preciso protestar por alguma coisa me despindo, mas afirmo com força que minhas palavras já causaram o mesmo espanto que talvez se eu tivesse tirado a roupa sofreria menos preconceito. Na verdade o que impera ainda é a falsa moralidade, essa indignação de alguns nada mais é para esconder seus próprios horrores pessoais e apenas um corpo nu não revela a maldade, revela mesmo a maldade da mente que protestou...pois não se acostumou com a verdade doída tão cruamente assim na cara, com a miséria humana tão exposta e vista...

Somos capazes do que há de melhor e pior...é só questão de escolha...então se tem gente que acha normal matar, adulterar, agredir crianças e mulheres, ofender os semelhantes, viver na hipocrisia, explorar empregados de forma escravocrata...andar pelado por aí realmente é agressivo? Será que tirar a roupa e se comportar de uma maneira pouco convencional é mesmo uma atitude assim tão medonha? Se não é, então por que os espanto?

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O perfeito idiota de classe média brasileiro por Adriano Silva





 Ele não faz trabalhos domésticos. Não tem gosto nem respeito por trabalhos manuais. Se puder, atrapalha o trabalho de quem pega no pesado. Aprendi isso em criança: só enfia o pé na lama com gosto quem nunca teve o desgosto de ir para o tanque na área de serviço, depois, esfregar o tênis ou a chuteira debaixo de água fria. Só deixa um resto de bebida secar no fundo de um copo quem nunca teve que fazer o malabarismo de meter a mão lá dentro com uma esponja, com a barriga encostada na pia, para tentar lavá-lo.


Trata-se de uma tradição lusitana, ibérica, que vem sendo reproduzida aqui na colônia desde os tempos em que os negros carregavam em barris, nas costas, a toilete dos seus proprietários, e eram chamados de “tigres” – porque os excrementos lhes caíam sobre as costas, formando listras que lembravam a pelagem do animal. O perfeito idiota de classe média brasileiro, ou PICMB, não ajuda em casa também por influência da mamãe, que nunca deixou que ele participasse das tarefas – nem mesmo por ou tirar uma mesa, nem mesmo arrumar a própria cama. Ele atira suas coisas pela casa, no chão, em qualquer lugar, e as deixa lá, pelo caminho. Não é com ele. Ele foi criado irresponsável e inconsequente. É o tipo de cara que pede um copo d’água deitado no sofá. E não faz nenhuma questão de mudar. O PICMB é um especialista em não fazer, em fazer de conta, em empurrar com a barriga, em se fazer de morto. Ele sabe que alguém fará por ele. Então ele se desenvolveu um sujeito preguiçoso. Folgado. Que se escora nos outros, não reconhece obrigações e que adora levar vantagem. Esse é o seu esporte predileto – transformar quem o cerca em seus otários particulares.

O tempo do perfeito idiota de classe média brasileiro vale mais que o das demais pessoas. É a mãe que fura a fila de carros no colégio dos filhos. É a moça que estaciona em vaga para deficientes ou para idosos no shopping. É o casal que atrasa uma hora num jantar com os amigos. A lei e as regras só valem para os outros. O PICMB não aceita restrições. Para ele, só privilégios e prerrogativas. Um direito divino – porque ele é melhor que todos os outros. É um adepto do vale tudo social, do cada um por si e do seja o que deus quiser. Ele só tem olhos para o próprio umbigo e os únicos interesses válidos são os seus.

O PICMB é o parâmetro de tudo. Quanto mais alguém for diferente dele, mais errado esse alguém estará. Ele tem preconceito contra pretos, pardos, pobres, nordestinos, baixos, gordos, gente do interior, gente que mora longe. E ele é sexista para caramba. Mesma lógica: quem não é da sua tribo, do seu quintal, é torto. E às vezes até quem é da tribo entra na moenda dos seus pré-julgamentos e da sua maledicência. A discriminação também é um jeito de você se tornar externo, e oposto, a um padrão que reconhece em si mas de que não gosta. É quando o narigudo se insurge contra narizes grandes. O PICMB adora isso.

O perfeito idiota de classe média brasileiro vai para Orlando sempre que pode. Seu templo, seu centro de peregrinação, é um outlet na Flórida. Acha a Europa chata. E a Ásia, um planeta esquisito com gente estranha e amarela que não lhe interessa. Há um tempo, o PICMB descobriu Nova York – para onde vai exclusivamente para comprar. Ficou meia hora dentro do Metropolitan, uma vez, mas achou aquilo aborrecido demais. Come pizza no Sbarro. Joga lixo no chão. Só anda de táxi – metrô, com a galera, nem em Manhattan. Nos anos 90, comprava camiseta no Hard Rock Cafe. Hoje virou um sacoleiro em lojas com Abercrombie & Fitch e Tommy Hillfiger. Depois de toda a farra, ainda troca cotoveladas no free shop para comprar uísque, perfume, chocolate e maquiagem. O PICMB é, sobretudo, um cara cafona. Usa roupas de polo sem saber o lado por onde se monta num cavalo. Nem sabe que aquelas roupas são de polo. Ou que polo é um esporte.

O PICMB adora pagar caro. Faz questão. Não apenas porque, para ele, caro é sinônimo de bom. Mas, principalmente, porque caro é sinônimo de “cheguei lá” e “eu posso” e “veja o quanto eu paguei nesse relógio ou nessa calça da Diesel”. Ele exibe marcas como penduricalhos numa árvore de natal. É assim que se mostra para os outros. Se pudesse, deixaria as etiquetas presas aos itens do vestuário e aos acessórios que carrega. O PICMB é jeca. É brega. Compra para se afirmar, para compensar o vazio e as frustrações, para se expressar de algum modo. O perfeito idiota de classe média brasileiro não se sente idiota pagando 4 000 reais por um console de vídeo game que custa 400 dólares lá fora. Nem acha um acinte pagar 100 000 reais por um carro que vale 25 000 dólares. Essa é a sua religião. Ele não se importa de ficar no vermelho – a preocupação com ter as contas em dias é para os fracos. Ele é o protótipo do novo rico burro. Do sujeito que acha que o bolso cheio pode compensar uma cabeça vazia.

O PICMB é cleptomaníaco. Sua obsessão por ter, e sua mania de locupletação material, lhe fazem roubar roupão de hotel e garrafinha de bebida do avião e amostra grátis de perfume em loja de departamento. Ele pega qualquer amostra de produto que esteja sendo ofertada numa degustação no supermercado. Mesmo que não goste daquilo. O PICMB adora boca livre e hotéis “all inclusive”. Ele adora camarote – quando ele consegue sentir o sangue azul fluindo em suas veias. Ele é a tradução perfeito do que é um pequeno burguês.

O perfeito idiota de classe média brasileiro entende Annita. Vibra com Latino. Seu mundo cabe dentro do imaginário do sertanejo romântico. Ele adora shows megaproduzidos, com pirotecnia, luzes e muita coreografia, cujos ingressos custem mais de 500 reais – mesmo que ele não conheça o artista. Ele não se importa de pagar uma taxa de conveniência escorchante para comprar esse ingresso da maneira mais barata para quem lhe vendeu – pela internet.

E o PICMB detesta ler. Comprou “50 Tons” para a mulher. E um livro de autoajuda para si mesmo. Mas agora que a novela está boa ficou difícil achar tempo para ler.

domingo, 2 de novembro de 2014

O Golpe...





Agora, uma semana depois das eleições e da vitória de Dilma Rousseff, os derrotados inconformados exigem um golpe. Isso mesmo, um golpe!
Pelo jeito a democracia brasileira não tem mesmo valor algum para essa gente, pois passou-se todo o período eleitoral falando dela, em sua defesa, acusando os petistas e os governistas de não serem leais à ela e blá, blá...e de repente, com a derrota nas urnas...apenas por ódio e nada mais que isso...eles querem destruir justamente ela que diziam tanto defender...


Afinal de contas, senhores derrotados, o que querem? Destruir o que custou tanto para se alcançar? Querem que o horror da ditadura volte a reinar e que a liberdade que tanto custou e caro, se dissolva por causa de uma insanidade?
Que espécie de brasileiros são vocês? Que patriotismo troncho é esse? A democracia, ou governo do povo, da maioria, impera que se aceite o resultado das urnas, pois foi legítimo. 


Se o candidato da mudança para trás tivesse ganhado as eleições, estariam felizes louvando a santa democracia, mas já que o resultado não foi o esperado querem um golpe...quem anseia por golpe tem ódio e muito ódio também da democracia, pois ela e somente nela é possível haver um resultado diverso, pois depende do humor do eleitor, da vontade dele e isso é o que determina tudo.


Portanto, caros golpistas, assumam que nunca foram democratas e assumam também que justiça, igualdade e democracia nunca fizeram parte do vocabulário de vocês, apenas os próprios interesses e nada mais.
Aí fica a pergunta: até quando essa baixaria vai continuar? Até quando os que odeiam o Brasil vão espernear? Coisa triste é gente recalcada..

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A Vitória



Enfim, depois de tanto sangue, suor e lágrimas, ela venceu. Ninguém foi mais merecedor desse resultado que ela. Essa mulher foi ultrajada das formas mais torpes por famosos e anônimos. As demostrações de ódio cresciam em efeito cascata e gente que não tinha opinião formada, por um impulso de querer ser da "onda", adquiria uma macabra necessidade de xingar, agredir, humilhar e desqualificar alguém que apenas estava tentando, como todos nós, estamos também tentando.



A mídia amaldiçoou essa mulher das formas mais insanas possíveis, o país se dividiu em pobres e ricos, negros e brancos, homens e mulheres, progressistas e reacionários e quem teve a coragem de escolher seu lado e defendê-lo, pagou um preço alto, mas nenhum tão alto quanto o dela, o dela foi alto demais. Essa senhora simples de sotaque mineiro foi chamada de assassina, terrorista, bruxa, feia, cachorra, questionaram sua sexualidade, criaram factoides, acusações falsas, tentaram um impeachment, a agrediram na frente de outros chefes de Estado, enfim, a violência foi imperativa.



Com relação a isso tenho uma opinião muito particular: para governar estava de um lado um homem, rico, bonito, charmoso, casado com uma linda mulher, herdeiro das oligarquias...de outro uma mulher, idosa, gorda, com sotaque roceiro, divorciada, oriunda da esquerda, tendo uma herança de militância armada...foi aí que nossos mais íntimos preconceitos sociais vieram à tona...como uma avalanche...



O machismo de muitos que não suportam ser governados por uma mulher explodiu, a ditadura da beleza daqueles que querem as mulheres como objetos de marketing saltou, o preconceito religioso e sexual transbordaram e de repente, vieram à forra todos os nossos ancestrais de colonizadores escravocratas, homens que não respeitam as mulheres e as mulheres que não se respeitam, como se estivessem guardados em um baú que foi aberto...é, nós mudamos sim, mas superficialmente, porém, a nossa estrutura ainda é arcaica, escravocrata, mesquinha e cruel.


A vitória veio, mas não terá sentido completa se novos problemas não forem debatidos com a sociedade, enquanto as mulheres não tiverem um real respeito, enquanto os trabalhadores não forem respeitados como cidadãos, enquanto as crianças não descobrirem o que é cidadania...agora o desafio está lançado e aí sim, com sua resolução poderemos gritar com força: vitória !!!!!

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A Barbárie...



Tenho visto estarrecida nesta reta final de campanha, mais nitidamente, pois isso já existia, uma saraivada de absurdos e grosserias a pessoas que simplesmente votam diferente do outro. Existe realmente, nos dois lados, pessoas que se sentem acima da lei, da afabilidade, da tolerância, da civilidade e simplesmente, gratuitamente, agridem as pessoas que tem opiniões diversas, vidas diversas, pensamentos diversos sem a menor reflexão dos absurdos que estão proferindo. 

Isso é visível nos debates, nas postagens da internet, nas discussões de esquinas ou bares, em qualquer lugar...e isso é preocupante. O que pode incomodar tanto alguém se eu voto em Dilma e seja lá quem vota em Aécio? Lamento a escolha, mas necessito respeitar, cada um sabe o que quer e como quer a sua vida, mas agredir, incitar o ódio, proferir palavras grosseiras e até mesmo de baixo nível...por quê? Para quê? 

Será que foi inútil que aqueles jovens sofreram nos porões da ditadura para que um dia a liberdade existisse, ou pessoas foram exiladas e mortas pelo mesmo fim? Para em 2014 estarmos nesse nível? Que espécie de democracia é essa? Que espécie de gente é essa? 

Todos tem o mesmo direito de fazer as escolhas que desejarem, o voto então deve ser consciente e bem pensado, fiz minha escolha, quero mantê-la, faço campanha, argumento, respondo a críticas, exponho o que penso, mas nunca serei capaz de dizer a quem quer que seja que a escolha dele ou dela é querer defender o imoral ou ilegal...

Quem sou eu para acreditar que tenho alguma autoridade sobre a escolha do outro? Quem sou eu para acreditar que estou do lado "certo" e corro para agredir quem está do lado "errado"? Estamos nos encaminhando para a barbárie? É isso mesmo? Não, não tolero barbaridades, quero e exijo RESPEITO.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A velha política...





Ontem, quando soube do apoio de Marina Silva a Aécio Neves, não fiquei nem um pouco surpresa, pois para mim, tal ato já era esperado e só não consegui entender a demora, o suspense. Acredito eu, que ela queria negociar propostas em troca de tal apoio e um deles, como todos sabem, seria o fim da reeleição. Pois muito bem, o candidato aceitou, mas só em 2022, ou seja, quando ele, caso seja eleito, for presidente e se reeleja. 

Em que pé ficou a situação? Em pé nenhum, pois ele apenas ganhou tempo e quando essa data chegar, nada irá mudar, porque ele não tem compromisso com Marina Silva, apenas com a própria campanha. E foi a custa de corrupção (Mensalão Tucano) que o PSDB criou a reeleição, com isso mostra que eles não querem que ela acabe. 

O que representa tal atitude para ela? Creio que dessa forma, seu discurso de nova política que já era bem questionável, morreu de vez e se sepultou, ela se tornou uma piada, alguém sem credibilidade entre os eleitores, seu partido, a Rede, vai se sustentar? E ela própria irá? Pouco provável, pois saiu desta eleição, não pela derrota de agora, mas devido a esse apoio, sem crédito entre os eleitores da nova política, e o pior e mais grave, mostrou com isso que mesmo tendo imposto condições para dar apoio a Aécio, foi só ele dizer não, que ela cedeu ao que não queria, mostrando mais uma vez fraqueza diante do que se esperava ser seus ideais. Aí eu pergunto: quem acredita agora na "nova política"?

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O que é mais importante?



Vejo com muita clareza, mas nada surpresa, o que está acontecendo nestas eleições. Agora a disputa é velha e conhecida PT x PSDB e veremos o que vai acontecer. No entanto, a grande questão não é essa, nem talvez quem vai ganhar as eleições, mas a mais importante de todas: e onde fica a honestidade dos que defendiam ardorosamente a candidatura de Marina Silva? 


Quando os escândalos envolvendo o PT começaram a aparecer e o nome da presidente ser citado, a onda Fora PT que já existia se intensificou, até aí entendível, as pessoas envolvidas em uma revolta por todos os escândalos....mas tanto Marina Silva e o candidato Aécio Neves, tiveram seus nomes envolvidos em escândalos, no tocante a ele, de proporções históricas, pois seu partido sempre esteve envolvido nos maiores escândalos e ele próprio já protagonizou cenas de corrupção, embriaguez, censura, enfim, o habitual de certos políticos...


Então a pergunta que não quer calar: o que é mais importante? Não era a honestidade? A ética na política e a decência? E por que agora não é mais? Esse movimento que fala que quer o PT de fora para acabar com a roubalheira, perde totalmente o nexo, pois o candidato oposicionista que aí está não pode falar de desonestidade...de ninguém...


Então aqueles defensores ardorosos da honestidade na verdade nunca se preocuparam com isso, apenas querem tirar o PT, pois se o problema é roubalheira...e por falar em PT, com ou sem roubalheira, protagonizou o que muita gente não quer se perpetuar: nordestino melhorando de vida, pobre tendo acesso a bens de consumo e universalização das políticas sociais: isso é o mais importante, o resto é conversa fiada...

domingo, 5 de outubro de 2014

E agora recomeça...






Urnas apuradas, votos contabilizados e resultados concretizados, vê-se o cenário de segundo turno sacramentado. Assim como era no princípio, Dilma Rousseff e Aécio Neves vão disputar as eleições em mais uma rodada. 

Marina, após a morte de Eduardo Campos cresceu imensamente, certas pessoas diziam convictas que ela já estava eleita mesmo faltando um mês para as apurações, as pesquisas apontavam a vitória dela como certa no segundo turno e outros comemoravam o fim da polarização PT/PSDB que existe há vinte anos. Tudo coisa de momento. A polarização ficou apenas mais acirrada com a presença de Marina Silva e outro fato veio à tona: as inconsistências dela, de seu discurso e sua aliança com a extrema direita não vingaram...sua pose de quem está acima do bem e do mal e sua proposta de governo que ao mesmo tempo cortava gastos públicos e ampliava direitos sociais não vingou, não vingaria, pois qualquer um sabe que não se pode investir e economizar ao mesmo tempo, as contas dessa proposta não são nada coerentes. 


Então veio o esperado, o usual, o que sempre se cogitou não fosse a tragédia de Campos, tudo voltou ao seu estado normal e as pessoas escolheram propostas mais claras e concretas. Agora o cenário é o mais concreto, as pessoas agora sabem onde estão pisando, das propostas temos os desenvolvimentistas com viés esquerdista e os neoliberais...quem irá vencer? O povo é quem escolhe, decisão soberana dele, mas vale ressaltar algo: não se pode falar em corrupção como escudo, pois ambas as candidaturas tem seus partidos envolvidos em escândalos, uns com pessoas condenadas e presas , outros impunes, uns com serviços prestados na década passada e os resultados estão para quem se lembra ou é curioso, outros com serviços mais atuais...agora é só comparar e decidir...


O que o povo quer? Mercado financeiro, mídia, bancos, crimes sem punição ou justiça social, investimentos em educação, corruptos presos, políticas sociais valorizadas e melhorias na vida dos mais simples? Isso é o povo quem vai decidir...

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Reta Final por Geovany Dantas



Faço aqui minhas impressões sobre a campanha que se encerra. Destaco desde já que não tenho nenhuma pretensão de ser imparcial, pois quem me conhece sabe em quem eu vou votar. Ainda assim, isso não me impede de fazer uma leitura crítica daquilo que vi e li ao longo desses dias. 

Dilma apontou no início da campanha para Aécio, depois apontou para Marina, que no início não apontava para ninguém e passou a apontar para Dilma e para Aécio, que apontava para as duas. Esta campanha viu o fim (será?) da polarização que domina a política brasileira há 20 anos.


Das que eu vivenciei nunca uma campanha presidencial se desenrolou com tantos lances imprevisíveis. E das que eu vivenciei nunca uma campanha teve um nível tão baixo quanto esta, dado o alto grau de ódio (de parte a parte) destilado pelas redes sociais nos espaços de comentários. Dessas discussões eu corria.


 Aqui e acolá surgiam lapsos de discussões sólidas e sem descambar para a desqualificação barata. Participei em alguns momentos.
Como um evento inimaginável coloca no centro da disputa alguém a quem foi reservado, no início do processo, o papel de coadjuvante. E como foi fácil ver uma candidata subir tão extraordinariamente nas intenções de voto e, igualmente rápido, cair. E nunca uma candidata deu tantos motivos para ter seu discurso descontruído. Sim estou falando de Marina.
 Se há uma “nova política”, nenhum dos candidatos a representa e sabe o motivo pelo qual eu penso assim?
 Não vejo a ascensão de uma “nova política” sem reforma política de cabo a rabo.
 

Nunca ficaram tão evidentes as aberrações em termos de alianças partidárias. Aqui estou falando de todas as coligações. Mais uma vez a reforma política se faz necessária, venha em que governo vier e com participação da população.
 Apesar de serem francos atiradores, Luciana Genro e Eduardo Jorge trouxeram para o debate assuntos que normalmente os candidatos mais bem posicionados não o fariam ou ficariam em cima do muro, sem falar que a primeira deu um sacode nos discursos dos três principais candidatos.
 Como tivemos debates tão pouco esclarecedores como nesta eleição.
 

Pausa para o RN: Deus continue a proteger nosso pequeno elefantinho nos próximos quatro anos. Nunca tinha visto uma campanha com candidatos ao governo tão ruins como nesta.
 Saúde, educação e segurança continuam sendo as palavras mágicas dos candidatos.
 Nunca tantos filhos, esposas, irmãos, gato, cachorro, periquito, papagaio, etc foram colocados na disputa para “continuar o nosso trabalho”.


 Como um sistema de eleição pode ser tão parasita como o proporcional (aquele que elegem os deputados federais e estaduais). Explico: o parasitismo não é com a coligação adversária, mas, sim dentro da própria coligação. Se alguém me explicar o motivo disso eu posso até mudar meu posicionamento.
 Mais uma vez nossa chamada “grande imprensa” tinha suas preferências, mas não as deixou evidente.
 E que ganhe quem o POVO quiser que ganhe!
Fica o registro

domingo, 28 de setembro de 2014

Meritocracia?






Há tempos, vejo se propagar discursos contrários aos programas de distribuição de renda, cotas raciais, acesso a bolsas de estudo pelo governo, enfim, os muitos programas sociais endeusados por uns e demonizados por outros. Vejo também discursos cada vez mais inflamados defendendo a meritocracia, pois muito bem, é dela que quero falar.



O mérito, o merecimento, sempre foi importante para qualquer pessoa ou grupo alcançar com sucesso algum objetivo de vida, mas não há que se falar em mérito, no caso específico brasileiro, quando historicamente não há igualdade de condições de competição.
Milhares de crianças e jovens, filhos das classes desfavorecidas de dinheiro, durante décadas, séculos, tiveram que competir em vestibulares da vida com os jovens de número minoritário que tiveram acesso não só ao melhor ensino, mas a melhor comida, a melhor roupa, aos melhores roteiros de viagem, enfim a uma melhor vida...então, esses mesmos jovens e seus defensores, por ver o número de vagas nas universidades públicas diminuírem por causa das cotas raciais e os programas de bolsas de estudos, lamentando que não se entra mais nas universidades através do merecimento, mas porque o governo ajuda.


Vejamos o seguinte fato: se nossos jovens, em toda a história do Brasil, não os de agora, tivessem acesso as mesmas condições de vida e portanto de estudo, seria justíssimo falar em mérito, mas como falar em meritocracia se existe um abismo que sempre separou esses grupos? Desigualdades sociais sempre existiram no mundo, mas a brasileira é generalizada e impeditiva, tipicamente arquitetada para quem está no estrato inferior nunca sair de lá e é aí que a escola pública de nível básico é ainda tão ruim, pois como fica a iniciativa privada a parcela de oferecer boas escolas de nível básico, quem tem mais acesso às melhores universidades? Aqueles que puderam ter mais acesso ao bem mais precioso de um povo, a educação.


Enquanto não forem oferecidas as mesmas condições de competição seja na escola ou em uma gincana de bairro, não há que se falar em meritocracia e sinceramente, quem a defende em condicionantes tão desiguais apenas quer maquiar seu discurso hipócrita de medo de uma concorrência na perda de privilégios históricos de uma pequena classe...

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A gente não quer só comida...


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Soube com muita felicidade da notícia de que o Brasil saiu do mapa da fome. A ONU divulgou esta semana os números de pessoas que passavam fome no Brasil e que hoje tem o que comer. Vibrei, essa é a verdade, e vibrarei sempre...



Agora o desafio começa de verdade. Como nossos maiores problemas sociais sempre eram a miséria e a fome, hoje com a mudança de cenário, surge um grupo numeroso que quer mais que simplesmente se alimentar. Esse grupo que surge quer comer em restaurantes, quer passear, quer ir a teatros, frequentar casas de shows, quer estudar mais, quer aprender novos idiomas, quer finalmente caminhar pelas cidades em segurança.


Chamo isso de desafio porque o maior problema, a fome, como sendo resolvido, fez surgir um problema ainda maior, como adequar um nova população que está sedenta de bens e serviços que antes eram impensáveis...


Com os preços dos produtos vendidos no Brasil eles ainda estão excluídos, com os níveis de educação e saúde ainda deficitários e o transporte público ainda muito ineficientes surge para quem quer que governe, novas demandas, demandas por uma população que já não pensa mais em escapar da fome 24 horas por dia, mas como pagar a prestação do carro e como fazer com que orçamento deixe um dinheiro para aquela viagem à Gramado...é...crescer tem suas demandas mudadas e isso é maravilhoso, pois até a corrupção, nossa velha amiga de 500 anos, já não é tão bem vinda como antes...esse país está mudando? Eu digo com certeza, sim, e para melhor...

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Por que eles podem e nós não?





Recententemente venho tendo uma postura contemplativa em relação à algumas experiências de minha vida. Uma dessas experiências que mais me marcou foi a primeira viagem internacional. Era o ano de 2011. Estava em uma fase onde havia passado em um concurso público, estava começando uma vida nova, estava feliz e mais independente. Aproveitei a primavera na Europa e fui conhecer a França, lindo lugar realmente, mas ao contrário de muitas pessoas que viajam para um lugar tão bonito, não consegui fazer turismo.


 Em cada lugar que passava, via os monumentos, as calçadas, as pessoas, os problemas, os motivos que fizeram aquela terra ser do jeito que é e não conseguia parar de pensar no Brasil e em suas particularidades e complexidades. Essa primeira viagem me fez perceber que mesmo estando em um país considerado desenvolvido, de sua população ter uma renda mais alta que a nossa, e sua população ser mais bem educada, percebi que eles, os europeus, olham para nós da mesma maneira. 


Ah que país lindo onde vocês vivem, escutava de uns, que povo bonito e alegre, escutava de outros, vocês trabalham muito, escutei também, o seu país é muito rico, escutava de outros...também desmistifiquei muitas outras coisas que pensava não existir por lá...presenciei pessoas pedindo esmolas, cheiro forte de esgoto em Paris, estrangeiros vendendo falsificações das bolsas de marcas caríssimas, assaltantes, sucateamento gradativo dos direitos sociais e empobrecimento da população...e também um conflito social muito forte em relação à causa Árabe...um grave problema...mas também vi uma coisa que falta em nós e adoraria que a moda pegasse por aqui: o conceito de coisa pública, direitos coletivos, urbanização voltada para a coletividade e respeito ao patrimônio de todos...


Muitos se sentem felizes nos metrôs de Paris ou Nova Iorque, mas não conseguem utilizar o transporte público no Brasil ,pois é coisa de pobre. Outros, respeitam todas as civilizadas leis de trânsito da Suíça, também visitei, mas parar para o pedestre passar na faixa é tido como um grande favor...por que somos assim? Seria nossa tradição colonialista que nos traz no íntimo uma admiração pela cidadania desenvolvida na Europa, mas que nos sentimos desmerecedores dela? E afinal por que acreditamos que a cidadania aqui tem que ser aliada a dinheiro? E porque muitos em vez de tentar fazer de sua pátria mais civilizada e decente prefere ir embora para viver em um lar mais civilizado? 


Será que esses que assim pensam não sabem que os europeus são mais civilizados e mais organizados porque lutaram muito e se sacrificaram durante séculos e primeiramente se valorizaram para depois adquirirem o respeito do resto do mundo? Então...essa foi a maior lição que as viagens que fiz e faço me trouxeram...um entendimento de que problemas existem em qualquer lugar e que se quisermos nos valorizar e respeitar enquanto povo e nação, precisamos nos reconhecer, valorizar e nos unir para superar nossos problemas, como os europeus fizeram no passado e continuam fazendo hoje...

sábado, 13 de setembro de 2014

Religião e eleições




Observo ultimamente na reta final de campanha todo tipo de teatro. É candidato se fazendo de vítima de todo jeito...os honestíssimos, acima de qualquer suspeita, vendo seus telhados desabarem, outros, mais habituados, tirando de letra e outros agredindo para reverter posições ruins na reta final de campanha. 


O que dá para perceber é que alguns candidatos utilizam, de forma descarada a comoção, a vitimização e a religião para subir em pesquisas ou se recuperar de posições ruins...aí vem a pergunta: se o Estado é laico, por qual motivo a crença individual tem que ter tanta importância? Não deveria ter, mas tem. 


O Brasil é um país onde a sua população, quer seja católica, evangélica, espírita ou umbandista, professa uma fé. O povo brasileiro é religioso, sincrético, fervoroso e ainda não compreendeu a posição laica do Estado. Já ouvi diversas vezes candidatos convocando os seus fiéis conclamando "o povo de Deus" a votar em seus candidatos...sem a menor cerimônia...os padres católicos ultimamente estão aparentemente afastados da política partidária, visto a posição central da igreja determinar tal ato...porém, nos dias atuais, parece ser natural julgar este ou aquele candidato por ter esta ou aquela fé, ou ausência dela. 


Diante de tal cenário, cabe a pergunta: a fé, a religião, a preferência de crença e culto são fundamentais para os destinos de um estado, um país, uma cidade? Por acaso professar alguma fé ou nenhuma faz da pessoa melhor para governar? Talvez para muita gente faça, pois ainda se acredita que a religião faz de alguém melhor...ledo engano, pois se mata e expropria em diversos lugares do mundo em nome da fé...então pensemos bem na escolha dos candidatos e passemos a ter mais raciocínio e menos emoção na hora do voto, pois na questão governo, Deus vai sempre olhar por todos, os honestos, os corruptos, os competentes e os incompetentes também e ninguém é melhor por professar esta ou aquela fé.

sábado, 6 de setembro de 2014

Respeito?

Ultimamente venho observando a nossa fraca estrutura de cidadania no Brasil. O que noto é que infelizmente minha conclusão não está errada , muito pelo contrário, está absurdamente atual...não gostaria que estivesse, mas está. 


Vejo o tempo todo pais abandonando seus filhos para serem criados por jogos eletrônicos, programas de televisão, internet. Ouço também muitos falarem que trabalham muito para dar "uma boa estrutura" aos seus filhos...e por falar em estrutura, observo também que o termo estruturado em nossa sociedade equivale a ter bens. Não sou contra as crianças brincarem com jogos modernos ou terem acesso à informática cada vez mais cedo ou simplesmente as pessoas terem uma vida financeira estável, quero que melhore a cada dia, mas a solidez estrutural de uma pessoa não deve ser baseada em sua renda, pelo contrário, deve ser baseada nos conceitos de respeito, solidariedade, carinho, afeto, tolerância e dignidade, depois vem os bens materiais...


Noto que não é de hoje que nossa sociedade valoriza o ter em detrimento do ser e vemos complacentemente jovens com boas roupas, bom vocabulário, bem alimentados, sem a menor noção de respeito ao próximo e a si mesmo. Também não vejo jovens pobres que com o suor do seu trabalho conseguiram ascender socialmente e financeiramente muito diferentes desse lamentável padrão...estão no mesmo barco, também não vejo isso como privilégio dos jovens, também vejo pessoas idosas utilizarem do mesmo comportamento...o desrespeito está entranhado na nossa cultura, sempre esteve, não é atual...vem desde os primeiros colonizadores...


O que vejo com uma certa melancolia é que os valores no Brasil são invertidos, o honesto é idiota, o desonesto é o esperto, o grosseiro é o forte, o tranquilo é o covarde e as vias de diálogo são ínfimas...aliás, não existe diálogo entre as famílias, antes era devido ao autoritarismo reinante, hoje a batalha é perdida para os jogos eletrônicos...vejo também com imensa tristeza pessoas idosas que vieram da mais absoluta miséria e melhoraram consideravelmente sua vida financeira agir de forma tão primitiva, pois se casam, o comportamento é de quem não casou, se tem filhos estes não são respeitados, as esposas então...mas mesmo assim formam família...deixando um rastro de dor e sofrimento...


Isso nunca acabará enquanto a nossa sociedade primeiramente,não cuidar da base, do respeito ao próximo, da ética na vida pública e do valor do ser humano enquanto cidadão e depois cuidar das finanças, pois só assim tanto o ser humano, quanto suas finanças serão melhor geridos para uma vida melhor, uma sociedade melhor, um mundo melhor...

sábado, 30 de agosto de 2014

Salvador da Pátria !!!



Fico impressionada com o espírito público e cívico dos brasileiros. Eles, o "povo", querem morar em um país digno, desenvolvido, importante politicamente e que funcione bem, mas na hora contribuir para que isso aconteça...nada! É cômodo se manter na eterna irresponsabilidade, na eterna ingenuidade política, pois na hora que as coisas vão mal a culpa é de alguém, menos do "povo". 


As pessoas querem ver uma violência menor, mas investir no social é atacar fortemente a dignidade de muitos, as pessoas amam falar mal da escola pública ou o SUS, mas não querem se mobilizar junto com alunos e equipe escolar para melhorar o ensino, tampouco querem "perder tempo" dando a devida atenção aos filhos em casa, para que no futuro se tornem adultos responsáveis e comprometidos. 


A moda é repetir a música de Legião urbana "Que País é Esse", mas querer unir forças para a contribuição de uma nação mais digna e humana, de forma alguma, "estou muito ocupado para isso"...e nessa total, fora de moda e cínica irresponsabilidade, vem muito a calhar um "salvador da pátria", um messias que tire a nação do "caos". 


Nenhum governante fará as reformas necessárias em um país com 500 anos de descaso com o social se as pessoas não apoiarem a causa, não haverá uma real melhoria na vida das pessoas se elas próprias não fizerem o seu papel cotidiano...quando pararem de furar as filas da vida, quando pararem de esconder as verdadeiras contribuições dos impostos, quando perderem o medo da ascensão dos mais pobres, quando assumirem definitivamente sua responsabilidade na vida em vez de querer que a escola eduque os filhos, que o governo resolva tudo sozinho...


Querem saúde pública de qualidade, mas se submete ao plano de saúde fraco, querem escola pública de qualidade, mas se submete os filhos a uma escola particular medíocre, mas quando o assunto é vou fazer a minha parte...a voz é eloquente...responsabilidade? Minha? Não é do "salvador da Pátria"...